Os stents são dispositivos usados por cardiologistas intervencionistas e hemodinamicistas para manter abertas determinadas artérias. Algo em torno de 7.000.000 de americanos foram submetidos a implante desses stents coronarianos nesta última década (algo em volta de 700.000 por ano). O custo dessa “farra” girou em torno de cento e dez bilhões de dólares.
Matéria publicada no site da Bloomberg cita o cardiologista Samuel DeMaio que, no intervalo de 8 meses, colocou 21 stents no paciente Bruce Peterson e, numa das intervenções, implantou cinco stents em uma única artéria. As conplicações que se seguiram levaram o paciente à morte.
A matéria relata também outros casos de uso abusivo ou fraudulento de stents coronarianos. Boa parte dos casos, segundo algumas instituições e especialistas ouvidos, os procedimentos foram desnecessários. Uma das fontes contactadas informa que os casos relatados são apenas a ponta do iceberg (“the tip of the iceberg”). É emblemático o caso do cardiologista Mehmood Patel que foi “preso no ano passado após 51 acusações de cobranças por colocação de stents desnecessários”. Este cidadão teria faturado mais de 16 milhões de dólares com este procedimento em 3 anos e está cumprindo pena de 10 anos em penitenciária federal americana. Outros casos gravíssimos e inimagináveis são referidos na matéria.
O Dr. Nortin Hadler, professor da Universidade de Carolina do Norte em Chapell Hill diz: “O stent pertence a um dos capítulos mais sombrios da medicina ocidental.(…) a indústria da cardiologia intervencionista tem um fluxo de caixa comnparável ao PIB de muitos países.”
Já o Dr. David Brown, cardiologista da Stony Brook University School of Medicine de Nova York, estima que dois de cada três stents implantados em pacientes estáveis “são desnecessários.”
Revela ainda a matéria que a Society for Cardiovascular Angiography and Interventions arrecadou 2.7 milhões de dólares em doações provenientes de empresas fabricantes de stents para divulgar os benefícios desses dispositivos no período de 2008 a 2011. A venda de stents dessas empresas na ocasião alcançava a cifra de 5,5 bilhões de dólares. As empresas citadas são Medtronic, Abooott, Boston Scientific e Cordis.
Que conclusões tirar de tudo isto? Até onde e quando a prática médica será ditada pela indústria que está focada apenas no lucro de seus acionistas? O que tem feito as instituições médicas para inibir esta prática que já contaminou muitas especialidades, inclusive a nossa? Até quando nossos congressos e eventos serão pautados, não pelo estudo e pesquisa das patologias e suas prevenções, mas pela garimpagem de procedimentos baseados no uso de dispositivos cada vez mais caros e, frequentemente, inúteis?
Leituras que sugiro:
Bloomberg
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa070829
http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1108733
domingo, outubro 06, 2013
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