A escleroterapia química com esclerosantes em formato espuma vem sendo usada há mais de trinta anos. O destaque recente dado a essa técnica se deve à divulgação feita por Dr. Juan Cabrera a partir de 1993 quando patenteou uma microespuma com gases fisiológicos. A partir de então, a julgar pelo que vem sendo divulgado por todos os lados e meios, o milagre da espuma vem derrubando todos os limites e parece que também todos os cuidados e cautelas.
A banalização da técnica que "torna a cirurgia de varizes coisa do passado" já está ultrapassando os limites do bom senso médico.
Para fornecer uma idéia da seriedade do tema relatamos a seguir a experiência vivida pelos médicos da Grow School for Oncology and Developmental Biology (Nederlands), Drs. Roeland P.M.Ceulen e Anja Sommer, e publicada no exemplar de Abril 2008 do New England Journal of Medicine ( N Engl J Med 2008;358:14)
Os autores relatam o caso de um homem de 51 anos que evoluiu com escotomas transitórios e uma jovem de 33 anos que apresentou síndrome neurológica (migraine), imediatamente após terem sido submetidos a tratamento esclerosante com espuma. Foi utilizado o Polidocanol (5ml) a 1% numa diluição de ar/líquido de 4:1. A técnica aplicada se pautou pelo European Consensus Guidelines.
Por conta do ocorrido os autores decidiram monitorar com ecocardiograma o trânsito da espuma em 33 pacientes consecutivos. Resultados obtidos pelos autores:
- presença de microêmbolos de espuma no átrio e ventrículo direito de todos os pacientes e que permaneceu por um período de 45 segundos a 15 minutos após a injeção.
- em cinco pacientes foram observados microêmbolos no átrio e ventrículo esquerdos. Estes eram portadores de foramen ovale patente
- nenhum desses pacientes apresentou sinais neurológicos
- os dois paciente originais, que apresentaram síndrome neurológica, também eram portadores de foramen ovale patente.
- O microembolismo é comum na escleroterapia com espuma
- 26 a 30% da população é portadora de foramen ovale patente
- estima-se que sinais neurológicos podem ocorrer em até 2% dos pacientes submetidos a esta técnica de escleroterapia
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A imagem mostrada no texto publicado pelos autores dá uma idéia dos cuidados que devemos ter e dos limites que devemos respeitar. Clique na imagem para vê-la em tamanho maior. A publicação não revela o montante de espuma injetado na safena. A espuma obtida com 5ml de Polidocanol pode ultrapassar 12 ml. Após muitos anos trabalhando com esta técnica posso afirmar que o volume injetado e a topografia da veia alvo são determinantes, além de outros fatores, para o advento de episódios dessa gravidade.
Não temos o direito de acrescentar efeitos colaterais desastrosos para o tratamento de uma patologia benigna como as varizes.
Donde podemos e devemos concluir que a existência estatisticamente significativa de "foramen ovale patente" na população deve manter aqueles que praticam a escleroterapia com espuma densa permanentemente atentos para a possibilidade, não só de trombose venosa, como também de embolia pulmonar e danos à rede vascular dos pulmões.
2 comentários:
Gostaria de saber se a glicose que foi utilizada na primeiro sessão pode ser reaproveitada na segunda. E qual deverá ser a conservação dela. Pois o medico abriu um "pastonete" e eu percebi que não foi completamente utilizado, ela deve ser desprezada?
gostaria de saber se é verdade q a espuma pode causar manchas no trajeto? e como vou saber se isso vai acontecer comigo? essas manchas somem com o tempo? obrigada.
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